15 de outubro de 2012

O Espectáculo Revolucionário


A "crise como oportunidade de mudança" é uma máxima frequentemente usada pela ideologia neoliberal dominante para, por um lado, exaltar todos aqueles que por via do privilégio resistem ou até se fortalecem nestas conjunturas e moralizar a incapacidade dos mais vulneráveis e desprotegidos injustamente colocados sob um plano de igualdade de oportunidades com os primeiros face às "inevitáveis" condições impostas pelo mercado livre e pela globalização. Os revolucionários anti-capitalistas também encontram na crise a oportunidade de mudança, não no contexto individual mas antes como uma oportunidade para a organização dos oprimidos para a confrontação com os opressores numa luta de classes.

As verdadeiras intenções dos capitalistas em alturas de crise são bem conhecidas o que carece de reflexão são as verdadeiras intenções de alguns dos auto-proclamados revolucionários nestes tempos conturbados. Temo que a estética da confrontação exceda em muitos casos os verdadeiros objectivos da luta social. Chamemos-lhe fetichismo da revolução. A luta tornada mercadoria não apenas na perspectiva ego-hedonista disfarçada pela pretensiosa representação da vontade popular mas também concretizada pelo merchandising da tshirt e da bandeira e outros mercados que vão desde a industria do espectáculo até equipamentos diversos dirigidos à confrontação tais como fisgas, passa-montanhas, botas de combate, etc...

Esta revolução não visa o fim do capitalismo mas a sua imortalidade. Nada de emancipatório ou transformador resultará da perpetuação do espectáculo revolucionário. A verdadeira transformação dar-se-há com o desejo de combater a injustiça, as desigualdades, a exploração e a dominação. Para isso, há que ter objectivos claros na luta social e política sem que a luta se torne ela própria o objectivo. Para isso, há que fazer alianças, sem que as alianças impliquem a abdicação das nossas convicções. Para isso, há que entender que a mudança leva tempo, as verdadeiras mudanças são progressivas. Para isso, os revolucionários terão de ser o povo e o povo os revolucionários. Doutra forma, a revolução será eternamente apenas uma palavra escrita numa parede.

2 comentários :

  1. Auto-crítica constante. Saber fazer a crítica e saber recebê-la.

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  2. Não é uma auto-critica é mais uma chamada de atenção sobre a necessidade que existe em clarificar que a revolução é um meio e não um fim.

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