Discordo completamente com a análise apresentada pelo Rui Tavares na crónica publicada hoje no público. O Rui Tavares diz que uma sociedade bipolarizada entre crédulos e incrédulos leva à ruína dum povo. Define crédulos como quem acredita e confia nos governantes e incrédulos quem não tem confiança nenhuma nos governos e que por isso, nem os crédulos, nem os incrédulos, são levados a agir. Por um lado, os crédulos não agirão porque acreditam que o governo está a fazer o que tem de ser feito, por outro, os incrédulos nada farão porque estão convictos que os governos nunca defendem o interesse comum e será sempre assim, associando no texto os incrédulos a movimentos pró e anti-capitalistas. Há nestes argumentos as falácias do falso dilema reduzindo a sociedade portuguesa a duas categorias e da simplificação exagerada dessas categorias. Certamente que há muitos gradientes de cinzentos nos crédulos e nos incrédulos. Eu não me identifico como cinzento nem duma coisa nem da outra. Eu sou incrédulo radical, bem negro. Usando a mesma retórica da bifurcação falaciosa, posso dividir os incrédulos em duas categorias: os incrédulos que acham que não vale a pena fazer nada porque os governos ganham sempre e os incrédulos que acham que vale a pena lutar por alternativas aos governos e ao capitalismo. Ser incrédulo e lutar por alternativas aos governos é radical, claro, mas é na luta contra a crença no capitalismo e no poder que se tecem as mudanças, chamemos-lhes revoluções, a história diz-nos isso. O crédulo, ou incrédulo moderado que me parece ser o grupo onde o Rui Tavares se auto-insere não é certamente radical e muito menos transformador porque a confiança ou desconfiança moderada não altera as relações formais de poder, acabando por ser radicalmente crédula no reformismo, e isso não provoca sequer um arranhão nem no poder nem no capitalismo. Quem será que o poder e o capital temem mais, os crédulos/incrédulos moderados ou os incrédulos radicais? Vejam sobre quem se abate a máquina repressiva do estado e terão a resposta.
Texto do artigo do Rui Tavares: Crédulos e Incrédulos
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