traduzido de Anarkismo.net
Constrói Poder e Demonstra Poder através de Acções de Massas Arrojadas e Participativas
Nós, os 99%, construiremos o nosso poder e mostraremos o nosso poder até que tenhamos ocupado os nossos locais de trabalho, as nossas comunidades, as nossas escolas, as nossas vidas, o nosso mundo... até que tenhamos ocupado tudo.
Houve uma vaga de ataques repressivos e de desalojos de vários campos do Occupy por todo o país, incluindo em Zucotti Park, onde o movimento começou. Mas mesmo antes dos desalojos e da repressão ter escalado para os níveis actuais, estava a ser colocada a questão: que caminho deve o movimento seguir? Tem havido alguns vislumbres de organização e de acção que têm mostrado o caminho e um pouco de luz sobre por onde podemos ir: a Greve Geral de Oakland, o Occupy Foreclosures (ocupações de casas que tinham sido alvo de execução de hipotecas), e outras acções. Estas acções mostram que, fundamentalmente, todas as questões estratégicas giram às volta da questão de poder. O poder dos 99% contra o poder do 1%.
Apesar dos 99% deterem grande poder (toda a riqueza é produzida, e a sociedade actual é construída e mantida através do seu trabalho colectivo, pago ou não pago) não exercemos com frequência este poder colectivo no nosso próprio interesse. Muitas vezes lutamos e arranjamos entre nós bodes expiatórios para a origem dos problemas, através do racismo, do patriarcado, da xenofobia, do preconceito geográfico, do heterossexismo, e de outras formas de divisão, opressão e preconceito. Isto é necessário para o 1% manter o controle porque o seu poder só é possível ser exercido com diferentes segmentos dos 99% a oprimirem e agirem activamente contra outros segmentos dos 99%, a que se soma o facto de nunca estarmos completamente conscientes do poder que temos e nos organizarmos para o utilizar. O resultado é que muitos segmentos dos 99% - pessoas de cor, mulheres, LGBTQs, imigrantes, os que têm menos credenciais académicas, os que têm trabalhos menos respeitados socialmente, os desempregados, os sem-abrigo, e outros – padecem de formas sobrepostas de preconceito social; mantemo-nos divididos e o 1% continua a aumentar o seu poder e riqueza por causa disso. Actualmente, o estado da economia afecta-nos a todos, e aos que enfrentam formas sobrepostas de preconceito e opressão, mais do que outros. Há demasiadas pessoas sem trabalho; os salários não acompanham a subida dos preços; os serviços sociais continuam a ser cortados; a nossa influência no governo sofreu uma erosão; as nossas liberdades estão sob ataque. Isto tem continuado enquanto as elites deste país se apoderaram de um quantidade crescente de riqueza, viram diminuir a quantidade de impostos que pagam, atacaram os nossos serviços sociais e organizações de defesa popular (como os sindicatos e organizações comunitárias), e consolidaram a um grau ainda maior o seu poder sobre a política. O site Business Insider – ironicamente – fornece uma das mais úteis séries de gráficos que fundamentam as preocupações do movimento Occupy nos preocupantes factos históricos que vivemos.
O caminho para a frente passa por construir e mostrar o nosso poder popular contra o da elite. Mas a forma do nosso poder tem de ser diferente da deles: devemos combater o fogo com a água. Onde eles exercem o poder hierárquico sobre nós para nos dominar, controlar, explorar e oprimir, devemos construir e exercer o poder horizontal, de baixo para cima, uns com os outros, para libertar, cooperar e colectivamente empoderarmo-nos uns aos outros. Precisamos nos organizar autonomamente de todas as formas de poder hierárquico nas nossas comunidades, escolas e locais de trabalho, para lutarmos colectivamente pelos nossos interesses. Isso deve incluir uma rejeição de tentativas de nos dividir e nos dirigir. Uma rejeição do racismo, do patriarcado, da xenofobia, do elitismo, e outras formas de opressão. Uma rejeição de que partidos políticos, grupos de interesse e outros nos cooptem e controlem o nosso movimento.
As ocupações no terreno construíram o movimento e trouxeram atenção global para as diversas preocupações dos 99%. Inspiraram muitos, deram-nos um sentimento de esperança e de solidariedade. Trouxeram a justiça económica e os problemas da desigualdade de poder outra vez para a luz dos holofotes da discussão nacional. Sublinharam a necessidade de culturas, sociedades e instituições de democracia directa baseada no “poder com” - e não no “poder sobre” - os outros. Serviram como um espaço de convergência para partilhar ideias e planear acções. E em alguns sítios providenciaram um espaço temporário para aqueles que precisavam de uma casa e de uma comunidade onde podiam encontrar menos perseguição do que normalmente enfrentam. As ocupações tiveram um papel fundamental no movimento, mas agora é tempo para avançarmos.
Precisamos de construir o movimento para lá da ocupação porque a maioria dos 99% não pode acampar no centro de uma cidade. A maioria dos 99% têm obrigações e vulnerabilidades que os impedem de participar nessas acções que consomem tanto tempo e estão restringidas geograficamente, incluindo o trabalho, a escola, responsabilidades com crianças ou outros dependentes, necessidades de saúde específicas, etc. Assim, de forma a que possamos exercer o nosso poder como 99% e para que ele seja verdadeiramente participativo, precisamos encontrar formas em que todos possamos participar, e a nossa contribuição ser valorizada com a capacidade que possuirmos e com o tempo que tivermos disponível. Precisamos que a nossa acção seja tão participativa, diversa e global quanto possível. Precisamos de arrojadamente mostrar e construir o nosso poder colectivo.
Mostrar Poder
Para mostrar o nosso poder, no dia 1º de Maio de 2012 iremos organizar-nos para uma acção acção participativa de massas e uma arrojada acção colectiva: uma greve geral nacional, boicotes em massa, greve/marcha estudantil e dia de acções de massas. Iremos organizar-nos dentro dos nossos sindicatos – ou organizações laborais informais onde não há sindicatos ou os sindicatos não apoiam – para levar a cabo uma greve geral de um dia. Quando uma greve não for possível, iremos organizar-nos para meterem baixa ou tirarem um dia de férias como parte de um “sick-out” coordenado. Os que são estudantes irão sair das suas escolas (ou nem sequer aparecer). Nas comunidades, iremos levar a cabo um boicote massivo e recusar fazer qualquer tipo de compra nesse dia. Esta acção será necessariamente uma demonstração simbólica de poder porque qualquer diminuição na actividade económica nesse dia irá ser compensada em compras e trabalho extra antes e depois do 1.º de Maio. Mas é simbólico no sentido em que um tiro de canhão por cima da proa de um navio é simbólico: não causa danos mas avisa o oponente que estamos dispostos e somos capazes de danificar o seu barco se necessário. E talvez tão importante como o próprio dia, a organização massiva e os esforços de divulgação nos meses que antecederem o 1.º de Maio dar-nos-ão a oportunidade de falar com os nosso colegas de trabalho, famílias, vizinhos, comunidades e amigos sobre os assuntos dos 99%, a fonte do nosso poder, da necessidade de nos impormos perante os ataque que estamos a sofrer, da necessidade de confrontar as várias opressões que mantém muitos de nós em baixo de uma forma ou de outra, divididos, e da necessidade de mantermos a solidariedade uns com os outros para combater pelos nossos interesses colectivos, que são estruturalmente, e portanto inerentemente, opostos aos interesses do 1%. Podemos construir a nossa consciência colectiva, capacidade e confiança através deste processo. E tornarmo-nos mais fortes com ele.
Construir Poder
Além de demonstrar o nosso poder no 1.º de Maio, precisamos construir as bases para a formação de poderes populares, colectivos, que funcionem de baixo para cima, anti-opressivos e anti-hierárquicos nos nossos empregos, comunidades e escolas. Assim, iremos fazer várias oficinas, construir várias campanhas organizativas, e participar em várias acções a nível local para contribuir para a construção desse poder colectivo. Algumas delas incluem: organizar novos sindicatos, tornarmo-nos mais activos em sindicatos participativos, tornar os sindicatos hierárquicos mais participativos, ocupar edifícios com execuções de hipotecas e preveni-las, construir instituições inquilinas, bloquear desalojos, criar redes solidariedade, para nomear alguns. Não seremos cooptados por partidos eleitorais ou organizações hierárqicas à procura de usar o movimento para servir os seus próprios interesses e com isso fazendo dispersar o nosso poder. Em vez disso, iremos organizar, educar, agitar nos locais em que nos encontramos, para construir poder uns com os outros e para combater directamente pelos nossos interesses: os interesses do poder popular contra o poder das elites. Todos nós devemos contribuir para que este esforço seja efectivo, mas, no maior grau possível, estas contribuições devem ter uma natureza colectiva porque o nosso verdadeiro poder está na nossa solidariedade uns com os outros.
Através deste esforço procuramos oferecer soluções reais de como abordar os assuntos de importância imediata de cada um de nós, através de acção colectiva de baixo para cima. O objectivo é continuar o mudança em progresso dentro do movimento de apenas mobilizar para organizar (ou de passar da mobilização para a massificação).
Mobilizar é necessário, mas não é suficiente. Não podemos apenas convocar as pessoas para se envolverem em acções. Precisamos de construir as redes, organizações e campanhas que providenciam as oportunidades para que um número crescente de pessoas participem no processo de decisão e no funcionamento das organizações populares autónomas que estamos a criar. O nosso movimento não tem líderes, o que também quer dizer que todos devemos ser líderes. Mas a liderança que construimos é, novamente, com, e não sobre os outros. Precisamos de escutar realmente o que os outros dizem e apoiarmo-nos uns aos outros no desenvolvimento da nossa própria consciência, capacidades e confiança. Precisamos de ver as lutas contra as diversas opressões que nos rebaixam e dividem, como centrais e não como distracções da efectividade das nossas lutas. Precisamos desencorajar e isolar as tendências egoístas, que se servem a si próprias e que matam os movimentos. As nossas redes, organizações e campanhas participativas, de baixo para cima, serão o caminho através do qual construiremos o nosso poder e conseguiremos pequenos ganhos a médio prazo. Mas servirão também de base para um novo mundo que procuramos construir. Este novo mundo nos nossos corações, dentro da carcaça do velho que estamos a confrontar, é um em que as pessoas partilham o poder com os outros e não uns sobre os outros. É onde os trabalhadores, eles próprios, controlam democraticamente os seus postos de trabalho. Onde todos podem encontrar trabalho com sentido, útil socialmente e equilibrado, levado a cabo em condições confortáveis. É onde os que não podem trabalhar (ou que já fizeram a sua parte) são tomados conta pela sociedade. Onde abolimos os dirigentes e ao invés as sociedades decidem directamente para elas próprias como viver, desenvolver-se e crescer. É onde o ambiente é saudável, lindo e sustentável. Onde todos temos as oportunidades educativas e sociais que nos permitem desenvolver e contribuir segundo o nosso potencial para as nossas famílias e sociedades. É onde as pessoas podem viver em boas casas e comunidades seguras, satisfazer totalmente as suas necessidades de saúde, comer bem e saudável, e não ter de se preocupar com a satisfação das suas necessidades e das suas famílias. Onde todos possamos ter tempo e recursos para gozar a vida, e onde a sociedade humana é movida não pela competição, opressão, exploração, dominação e guerra, mas pelo amor, liberdade e solidariedade. Nós, os 99%, construiremos o nosso poder e mostraremos o nosso poder até que tenhamos ocupado os nossos locais de trabalho, as nossas comunidades, as nossas escolas, as nossas vidas, o nosso mundo... até que tenhamos ocupado tudo!
Occupy May 1st
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