7 de fevereiro de 2013

Que se lixe a troika, o povo é quem mais ordena

Acredito na liberdade, isto é, creio que todos somos capazes de tomar decisões independentes das nossas crenças e dos nossos desejos, de examinar racionalmente um problema com os outros e procurar a melhor de entre as soluções disponíveis. Creio, sob pena de contradição, que o mesmo se aplica aos militantes de partidos.

Também porque acredito na liberdade, a ideia de um partido necessário me parece contraditória, uma vez que ela implica a negação da possibilidade da auto-libertação e, por extensão, da liberdade.

O partido não é necessariamente uma entidade com sócios, sedes abertas e existência reconhecida notarialmente, ele pode estar implicado no comportamento de qualquer grupo mais ou menos formal e combate-se pelo “conhecimento que a mente tem da sua ligação ao todo.” (B.S.)

Se a liberdade política é a possibilidade de todo o cidadão participar na gestão da coisa pública, qualquer forma indirecta da representação me parece uma limitação da liberdade (digo limitação porque creio que a liberdade admite graus).

A organização autónoma das populações parece ser, por coerência, o melhor modelo para a realização da liberdade política e da justiça social, também porque nenhum indivíduo ou elite escapa ao apelo da paixão e os argumentos da complexidade e da necessidade do segredo são apenas argumentos a favor da dominação.

Ao contrário do que comummente se afirma, creio que só os fins podem justificar os meios e que, por conseguinte o fim está já implicado no meio. Creio, contudo, que os meios podem ter diferentes graus de adequação, garantindo diferentes possibilidades de sucesso; mas não posso atravessar um rio em cima de uma laje.

O que está hoje em causa não é a troika em sentido estrito, mas o contra-ataque ao golpe de estado de uma direita caceteira, comandado pelo capital financeiro e as multinacionais com a conivência dos partidos da internacional socialista e, como no caso Português, de alguns sindicatos (UGT).

A necessidade urgente de derrubar o governo actual, mera delegação da troika, e de inviabilizar a formação de um governo de direita, faz-se acima de tudo na rua, procurando a partir daí induzir práticas que permitam reverter a situação, como aconteceu já noutros países sujeitos a ataques similares.

É ao mesmo tempo necessário caminhar no sentido de tornar possível a realização da liberdade política, o que exige o lançamento da organização autónoma das populações (mais que falar dela) e, porque a linguagem é fundamental na construção da realidade social, abandonar frases da forma “reivindicamos tal e tal”, pelo que implicam de reconhecimento da ordem dominante, ou “a democracia está em perigo”, que arrastam consigo muitos equívocas relativamente ao que pensamos, acabando por nos confundirem a nós mesmos.

O “que se lixe a troika” parece-me ser neste momento, pela sua heterogeneidade e abertura, por ser maioritariamente animado por independentes, o lugar mais plausível para um debate franco e uma acção descomplexada em direcção à liberdade.

António A.

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