15 de fevereiro de 2012

Mais um triste episódio dos funcionários da CGTP


Não é descabido que eu tenha ficado tão indignada ao presenciar a cena de um funcionário da CGTP ter-se dado ao trabalho de subir a uma estátua para coagir um manifestante a retirar o seu cartaz por este dizer claramente «Sindicalismo revolucionário, já. A las barricadas!». Se o cartaz desfilou por toda a manifestação e não houve um único trabalhador que o viesse questionar (o que também pode não ser bom sintoma!), se havia tantos outros cartazes anti-ACTA pendurados na estátua, por que teria sido este cartaz o pomo da discórdia? Por questionar a eficácia de sucessivas manifestações participadas mas inconsequentes porque não seguidas por uma acuidade de acção sindical que mais do que nunca se exige verdadeiramente revolucionária? Por estar para botar discurso o novo secretário geral e se querer mostrar serviço? Por persistirem os tiques do autoritarismo e do monopolização da luta? Como me disse uma manifestante manifestamente indignada “Indignados? Indignados de Lisboa? Indignados estamos nós todos não podem falar em meu nome” - a quem respondi que ninguém tem o monopólio da luta, que por se ser do partido comunista português como ela isso também não a torna dona comunismo, nem dona da liberdade de entregarmos papéis na rua. Que também temos estado a fazer trabalho na mesma luta pelos transportes públicos. Que somos um grupo de trabalho e que temos todo o direito de estar ali a distribuir os nossos papéis - que toda a gente mostrou querer conhecer; que temos todo o direito a afixar nas praças os nossos cartazes e as nossas frases e ninguém se lembra que também os vossos cartazes por todo o lado, as vossas bandeiras e palavras de ordem repetidas há 30 anos - «CGTP unidade sindical» - que as vossas atitudes de controleiros, autoritárias, de delação até, já nos feriram e já nos cansam de tanta ineficácia e mesmo assim nós nunca tiramos os vossos cartazes.

A cena do cartaz foi lamentável e muito me custa que na CGTP continuem a acontecer este tipo de coisas que impedem qualquer vislumbre de mudança. Não há mudança. Apenas saiu um secretário geral e entrou outro. A orientação é a mesma… no dia das barricadas vamos a ver de que lado se põem! Se formos a pensar na conversa em relação ao que se passou ontem na Grécia…

Só pergunto: o que diz este cartaz que para a CGTP é tabu? Querer e acreditar na possibilidade de existir sindicatos revolucionários é uma coisa assim tão ofensiva para os dirigentes da CGTP Porque que eu saiba a CGTP são os sindicatos dos trabalhadores e como tal devem representar a vontade dos trabalhadores, depois de os ouvir. Vão perguntar aos trabalhadores se querem um sindicato revolucionário e tragam a resposta.

Os manifestantes pelo contrário parecem estar ávidos de informação, que alguém lhes diga o que fazer, como agir, não se contentam só com cartazes e bandeiras. Mas nós, os das assembleias populares, indignados, não temos essa ambição. Preferimos que sejam as pessoas a nos dizer o que querem e até onde estão dispostas a ir para defender os seus direitos e para se empenharem na realização de uma verdadeira mudança que se possa reflectir na qualidade da democracia. Não há receitas milagrosas se não forem as pessoas a agir.

Enquanto por todo o lado se repetirem ordens, despachos e decretos de cima para baixo isto simplesmente não é uma democracia verdadeira, uma democracia verdadeira é serem as pessoas a decidir como funciona melhor aquilo em que elas trabalham e como o possibilitar. São elas as sabedoras do seu ofício, não são uns senhores dos gabinetes a dizerem em que é que temos que cortar e como é que o temos que fazer; não são os burocratas dos sindicatos que sabem o que as pessoas sentem na pele. Continuo a não ver os desempregados a engrossar as fileiras da CGTP; continuo a não ver uma batalha firme contra os despedimentos; os trabalhadores continuam a perder direitos e a CGTP, apesar de ter mais uma vez abandonado a concertação social, e continuar a pedir aumentos salariais, não agudizou a luta… as medidas de austeridade não se podem combater só com a organização de manifestações, por muito grandes que elas sejam. Existem outras formas de luta que a própria constituição prevê, como a acção popular. Tenho por princípio distinguir as organizações de trabalhadores, dos dirigentes sindicais e das forças de segurança da CGTP. Sou uma entusiasta da existência de sindicatos, que facilitem as pessoas se poderem reunir nos seus postos de trabalho e se organizar; e não me choca que os trabalhadores mandatem quem possa representar da melhor forma as suas decisões. Mas o modo como os sindicatos que temos se organizam, de cima para baixo, como tudo o que é institucional é mais um forte contributo para as falhas da democracia. Tristemente há pessoas que já não acreditam nos sindicatos. Mas eles diferentes são possíveis, se forem verdadeiramente revolucionários e derem o exemplo de uma boa prática democrática que saiba ouvir o que as pessoas têm para dizer e que procurem executar a vontade popular. E é bom que alguém acredite nessa possibilidade, principalmente se ainda está a tempo de os ajudar a construir.

Procurou-se mais uma vez abafar a liberdade de expressão numa manifestação da CGTP, como se aquele cartaz fosse mais ofensivo que o discurso do governo da Troika. Por isso e porque presenciei a cena e a fotografei, não me posso calar. Em liberdade não há nada que não se possa discutir. Retirar um cartaz só por ele falar na possibilidade de um sindicalismo revolucionário foi e continua a ser um acto de repressão e de autoritarismo puro e duro. Quando apareceu o outro sujeito careca de óculos escuros só me ocorreu que estivesse ali a extrema direita infiltrada, mas não, se bem que chegaram a haver rumores de que por ali andavam… este se não era podia muito bem ser. Ou isso ou um autómato que quando eu lhe disse que A RUA É NOSSA, perguntou em resposta A RUA É NOSSA? E ficou a repetir sem argumentos: a rua é nossa? A rua é nossa? A rua é nossa? Entretanto chegou uma mulher que aparentava ser polícia, fosse lá de que polícia fosse… e nós virámos costas porque não gostamos de agentes à paisana… mas depois apareceu um manda-chuva a reter o Francisco e quando ele se livrou dele o clima amainou e ficou por ali.

Ao passarmos pela multidão a caminho do protesto anti-ACTA, ainda se ouviram vozes como aquelas máscaras a passar serem os piratas da net… ou uma velhinha a achar que era um desfile de Carnaval. Quando e como conseguiremos que as nossas informações e mensagens cheguem às pessoas que se vêm manifestar em procissão e partem de mãos vazias?



5 comentários :

  1. anarco-parvos!!! Vocês são filhos do Pacheco Pereira, esse grande revolucionário!!! Há 1º opurtunidade vendem-se!!!

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  2. o nível de argumentação deste senhor anónimo é, de facto de uma riqueza de argumentos que deslumbra qualquer um... wow... tb deve gostar de desfiles e procissões, mas fica histérico e perturbado com a livre expressão... além disso, se calhar talvez aprenda a escrever melhor se procurar esclarecer-se quanto à diferença entre "há" e "à"... ;o)

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  3. Ah, pois... Há, mas são verdes
    JjS

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  4. Oh, "anónimo-parvalhão":
    E TU és filho de QUEM?...Se calhar do Mem Verdial, do Velez Grilo e de outros "anónimos" semelhantes que tentaram ajudar o Salazar a destruir a CGT antiga depois de terem dividido o movimento operário criando a antiga "c.i.s" -percursora da "intersindical" actual...

    E por falar em "vender": pergunta ao teu controleiro que é que foi feito de grande parte dos ficheiros da antiga PIDE que "mágicamente" desapareceram logo após o 25 de Abril...porque não é com aqueles que restaram na actual Torre do Tombo que se pode comprovar a "firmeza" e o "heroísmo" de tantos "camaradas"... Aliás devias dar pelo menos tanta atenção a pachecos pereiras e durões (ex-maoistas) como a "camaradas" teus e tuas que também "passaram para o outro lado da barricada" (Zitas Seabras e quejandos...) Passaram?...Se calhar sempre lá estiveram...Porque vocês sempre fizeram e farão papel de "bombeiros" da revolução...Não é , filho!?

    Mário Castelhano (AIT-SP- Norte)

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