25 de janeiro de 2012

"Há muito que a ideia andava a bailar, é a altura de lhe permitir voar."

Já era tempo dos activistas ciganos começarem o trabalho de auto-organização necessário para terem uma voz consistente e audível na região portuguesa. Essa voz tem de vir necessariamente de dentro das comunidades ciganas, das bocas dos próprios ciganos, e não ser deixada a cargo de técnicos, académicos e activistas não-ciganos. Se os próprios não falarem por si próprios, ninguém o fará no seu lugar. Quando muito, essas vozes entrepostas falarão pelo que pensam que querem e o que é melhor para os ciganos, e isso não é, de todo, uma voz própria, insubmissa e livre a falar, como é apanágio da tradição cigana.

Foi lançada recentemente a Estratégia Nacional para a Integração das Comunidades Ciganas, a cargo do Alto Comissariado para a Imigração e Minoria Étnicas (ACIDI). É uma estranha forma de interculturalismo esta que parte da noção de que há uma cultura que deve integrar-se na outra, em vez de colocar o problema numa dinâmica de integração mútua. A estratégia tem como primeira prioridade a criação de um grupo consultivo composto por diversas entidades, mas em que apenas dois ciganos estão presentes no meio de dezasseis não-ciganos e ainda são escolhidos pelo ACIDI. A seu lado à mesma mesa, um membro da PSP e outro da GNR, não vá o diabo tecê-las.

O que vale para não-ciganos a falarem por ciganos, vale para ciganos a falarem por outros que nem sequer sabem que estão a ser representados. Num povo tão segregado como este não seriam poucos. A cada um a sua voz. Pois que falem os ciganos.

«Como, bebo, vivo, morro - porquê Reinar?» máxima cigana.

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