24 de dezembro de 2011

Notas para uma crítica do sindicalismo

1. a globalização, de velas enfunadas pelos ventos de chicago e a ajuda à navegação da esquerda, sobretudo da esquerda social-democrata, completamente rendida aos cantos de sereia do capitalismo liberal, esvaziou a capacidade de acção dos sindicatos, os quais, por via do trabalho precário (recibos verdes, contratos a um mês...) têm cada dia menos membros e, por conseguinte, menos influência na definição das políticas sociais.

2. outra contribuição importante para a inoperacionalidade dos sindicatos é o facto de permanecerem prisioneiros de direcções partidárias incapazes de acertarem o passo com as exigências da actualidade e cuja estratégia se reduz à colecção de umas migalhas de poder.

3. metidos em tal espartilho, não conseguem ir além de processos negociais maioritariamente condenados ao fracasso e de umas quantas manifestações/catarse, pondo-se demasiadas vezes na pele de polícias do capital e caminhando rapidamente para a redundância.

4. portanto, ou mudam de estratégia ou desaparecem, sendo que, para aumentarem a sua utilidade e influência devem começar por encarar de frente as necessidades teóricas e práticas do movimento revolucionário dos nossos dias.

5. a primeira verdade que se torna necessário enfrentar é o facto de, no quadro do capitalismo, mais ou menos humanizado, o aumento do desemprego e o desmantelamento do estado social serem irreversíveis: há excesso de produção e a produtividade só já pode crescer pela redução do valor do trabalho incorporado nas mercadorias e pelo desemprego.
6. a segunda verdade, e ela explica em parte a ausência de estratégia dos partidos da esquerda, é que a simples apropriação dos meios de produção e o controlo do aparelho do estado não garantem a liberdade política nem a justiça social; e não são via para o comunismo.

7. a terceira verdade que importa enfrentar é a afirmação do carácter exclusivo do sistema dos partidos em qualquer das suas modalidades.

8. uma quarta verdade é a assumpção de que o cerne da crítica do capitalismo não é a propaganda associada à demagogia do pleno emprego mas a crítica do trabalho abstracto, do valor e do feiticismo da mercadoria.

9. é possível a partir daqui iniciar o esboço das modalidades de acção de um sindicalismo revolucionário, o qual deverá favorecer duas vertentes fundamentais: a protecção dos trabalhadores empregados e a participação no lançamento das bases da organização política e económica do futuro.

10. a primeira destas vertentes terá um sindicalismo muito próximo do actual, agindo sobretudo na negociação das condições de exercício do trabalho por parte dos trabalhadores por conta de outrém; a segunda exige alterações importantes na actividade tradicional do sindicato, orientando-se para tarefas práticas de organização de unidades de distribuição dos bens disponíveis (inclusive do poder) capazes de se constituírem em elementos de produção de uma força constituinte.

11. isso implica a utilização das capacidades técnica e burocrática dos sindicatos na ajuda à organização, por parte dos desempregados e dos movimentos sociais, de redes de produção e distribuição autogeridas e colocadas fora da lógica do mercado capitalista, onde tudo deve ser reduzido à forma dinheiro;

12. considerar as necessidades dos indivíduos enquanto consumidores (coisa comum a todos) e não enquanto produtores: organização da produção conforme a necessidade de consumo dos indivíduos e não a promoção do consumo por necessidade da produção;

13. abandonar práticas centralistas, libertar-se do jugo dos partidos e aceitar formas de relação horizontais com todas as organizações do movimento social revolucionário.

14. a força posta na segunda vertente reforçará exponencialmente a capacidade de agir na primeira, garantindo maior eficácia em qualquer negociação.

15. mesmo a capacidade de os trabalhadores assumirem uma batalha sabendo da existência de alternativas na retaguarda é seguramente superior.

16. finalmente, gostaria que este texto não fosse visto como um manifesto acabado mas como ponto de partida para uma discussão alargada a todos, envolvendo as necessidades gerais de uma estratégia inclusiva, não dogmática e anti-autoritária.

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